O universo ficcional é mesmo fascinante. Sua riqueza de detalhes e a construção minuciosa de sua atmosfera permite uma imersão tão profunda que pode, em alguns casos, chegar muito próxima da realidade. Inúmeros são os exemplos de fans que adotam o estilo de vida de seus personagens de séries televisivas ou cinematográficas. As feiras de cosplays, cada vez mais frequentes no Brasil, são um exemplo disso.
Essas séries, filmes e até mesmo jogos sem dúvida são marcas fortes e bem trabalhadas, House, The Simpsons, The Breaking Bad, The Walking Dead, Star Wars, Star Treck, Se beber não case; todas excelentes exemplos. Mas não é exatamente delas que vamos falar a seguir.
No ano de 2013 escrevi um artigo intitulado “Branding nas Telonas“ que abordava marcas construídas e gerenciadas nas telonas, com exemplos como Umbrella Corporation, Dinoco e Stark Industries.
Agora ganha destaque o novo filme da franquia Jurassic Park intitulado “Jurassic World”, pois é, parece que o homem ainda não aprendeu que “brincar de Deus” pode levá-lo a boca de um gigante com dentes afiados. Mas, brincadeiras à parte, o filme merece os holofotes pela sua campanha de divulgação on-line.
No site do filme www.jurassicworld.com.br é possível vivenciar a experiência de imersão no universo da franquia. Além de ser a plataforma de divulgação do longa, exercendo a mesma função do site de diversos filmes, o site de Jurassic World proporciona ao internauta a experiência que um visitante do parque teria ao buscar os serviços de turismo e entretenimento tão diferenciados propostos na trama, lançando mão de conceitos de marketing atuais inerentes ao advento das novas mídias (que já não são tão novas) na comunicação.
Tudo começa com o conceito de transmedia (crossmedia) definido por Martha Gabriel (2010, págs. 110-111) como o “uso integrado das mídias, de forma que uma história ou mensagem ultrapasse os limites de um único meio”.
No caso de Jurassic World o meio de origem é o filme no formato tradicional, aquele que passa no cinema e depois vira DVD e Blu-Ray. A partir daí temos o site do filme, Facebook, Instagram, You Tube e até mesmo o site institucional da empresa responsável pelo parque, o que reforça a construção do universo ficcional do filme na campanha de divulgação.
Navegando um pouco no site principal é possível perceber o cuidado com os detalhes e a preocupação com a construção de uma experiência quase real.
Itens como a previsão do tempo na ilha, horário de funcionamento, curiosidades, acesso à redes sociais e contagem para o lançamento ficam reunidos em um menu no canto superior esquerdo. Ao lado há um vídeo rolando com chamadas para as áreas do parque, sobreposto por um menu ao estilo Windows 8, onde estão reunidos itens como o mapa do site, curiosidades, planejamento de visita, observações sobre segurança, ingressos, passe especial e mais alguns.
Descendo na navegação outros itens interessantes aparecem, tais como: um menu das lanchonetes da ilha (uma referência à rede Winston´s da vida real), dica de drink, descrição de opções de atração e, o mais interessante, um tour virtual pelo Resort Hilton da ilha e um link para a empresa responsável por tornar o Jurassic World realidade, fazendo com que ficção e realidade se misturem ainda mais.
É interessante analisar o que leva o Hilton a emprestar sua marca para o hotel da Ilha Nublar (https://www.youtube.com/watch?v=T2-DKQeoO0o). Analisando com cuidado, a marca, líder mundial em hotelaria, ao aparecer como o resort oficial do Jurassic World reforça a missão, visão e valores que pratica realmente, estendendo sua posição da realidade para a ficção e garantindo sua posição de destaque nas mentes das pessoas.
Em seu site institucional o Hilton declara ser a empresa líder no setor, comprometida com a inovação e a melhor experiência, logo, ser o hotel oficial de um resort com as peculiaridades do Jurassic World é algo coerente com seu posicionamento e, se ainda não é possível fazer isso no mundo real, então que seja no ficcional.
Também vale a pena dedicar atenção à Masrani Corporation, que na trama é a marca responsável por tornar o Jurassic World uma realidade. A maneira como a marca é apresentada ao público é notável. Ao final do site do Jurassic World há um link que leva para a página institucional da Masrani, onde, assim como acontece na vida real, a empresa é apresentada ao público, incluindo investidores. Ao assistir o vídeo (http://www.masraniglobal.com/) fica clara a preocupação com o posicionamento e valores da corporação, evidenciando o trabalho de branding dedicado à franquia Jurassic World. Uma noção que retoma e inclui abordagens do filme original de 1993, fazendo referência à marca InGen.
Contudo, há alguns pontos sobre os quais vale a pena refletir quando o assunto é transmedia. Ao usar as diferentes mídias para que uma história ou mensagem ultrapasse um único meio é interessante buscar certo alinhamento ao conduzir as ações. O site leva para perfis do Facebook, Instagram e Twitter*, porém, o conteúdo tratado nessas redes não oferece a mesma experiência que o portal, limitando-se à divulgação do filme de forma tradicional. Nesse sentido, poderiam ter fotos de situações do dia a dia do parque com o ponto de vista dos visitantes, através de hashtags e sistema de totens interativos por exemplo. Claro que isso torna tudo mais complexo, mas essa é uma característica inerente à proposta do transmedia.
Além disso, a versão em inglês se mostra muito mais completa que seus pares, permitindo inclusive a compra de itens relacionados ao filme, como camisetas e blusões, bem como conteúdo mais completo e atualizado, que garantem uma experiência mais completa (vale a pena conferir: http://www.jurassicworld.com/)
No geral Jurassic World é um case interessante de ser analisado, sobretudo por evidenciar as minúcias do branding e sua importância para gerar percepções na mente das pessoas, estejam elas em situações reais ou imersas na ficção que o entretenimento propõe.
Como profissionais que trabalham com marcas é importante perceber as práticas de mercado e sempre refletir sobre como elas podem ser aproveitadas na gestão de suas marcas, tendo como base pontos positivos e negativos que são observados, garantindo assim o aprendizado e melhorias constantes.
*No caso da versão brasileira do site de Jurassic World, ao clicar nos links do Twitter e Instagram, o usuário é direcionado para os perfis da Universal, quebrando a sinergia conseguida nas outras versões pelo mundo.
Referências:
GABRIEL, Martha. Marketing na Era Digital. São Paulo: Novatec Editora, 2010.
http://br.jurassicworldintl.com/
http://www.jurassicworld.com/
2 respostas
Muito interessante o artigo. O cinema sempre se superou em termos de marketing!
Parabéns!
Obrigado Luciene! Realmente o cinema é uma fonte inesgotável de inspiração e, por carregar consigo a magia do contar histórias, aproveita muito bem as possibilidades de comunicação nas diversas mídias de hoje.