Chega um momento em que é preciso repaginar, mudar os ares e abrir espaço para o novo.
E não estamos falando apenas de espaço físico (que tem tudo a ver com esta edição da Jornada do Branding) mas, além de oportunidades e necessidades, a busca por mudança também é um dos grandes motivadores do empreendedorismo.
Quantas pessoas você conhece que, em um dado momento de suas carreiras, muitas vezes bem sucedidas, decidiram mudar e empreender em direção a uma paixão?
No mundo das startups esses momentos nos quais se decide mudar o rumo do projeto e recomeçar segundo um novo olhar são conhecidos como “pivotar” e podem representar uma grande quebra de paradigmas e ampliação de horizontes.
A Plus Interiores nasceu assim, a partir da necessidade de mudar em busca de um propósito da sócia-diretora Elisama Lorenzo.
Acompanhe mais esta Jornada, agora, no universo do design de interiores!
Mudança de rota motivada pelo Propósito
Elisama Lorenzo iniciou a Plus Interiores junto de Mariana Borges e Fabíola Avamileno (arquiteta).
Formada em administração de empresas, Elisama construiu uma carreira de muitos anos, na área pública, distante do mundo do design. E em paralelo à sua trajetória, alimentando o sonho de trabalhar com decoração de ambientes, no momento em que a oportunidade encontrou a coragem para mudar de rota, decidiu iniciar uma nova faculdade.
Esta mudança ocorreu na fase em que sua filha ainda era pequena e ela já não estava mais trabalhando na área administrativa.
“Por sempre ter gostado e ter muita afinidade com a área de design de interiores, que é bastante dinâmica, além de ser incentivada por uma arquiteta com quem tive contato no trabalho, me motivei a fazer o curso”, conta a empresária.
A administradora entrou na faculdade de Belas Artes de São Paulo em 2012, especializando-se na área de design de interiores em 2015.
O Designer de Interiores é a parte do design responsável por projetar ambientes internos focando sempre nas necessidades do cliente e nas relações entre pessoas e espaços no contexto de seu estilo de vida.

Forma, função e estilo aplicados no dia a dia, impactando diretamente no bem estar, conforto, produtividade, praticidade e otimização de recursos – unir todos esses elementos é a missão do designer de interiores.
E, assim como outras áreas do design, o design de interiores se relaciona com o branding pelo fato de proporcionar experiências que impactam profundamente as nossas percepções.
Ao falar em ambientes projetados para uso doméstico/privado, essas percepções se relacionam com nossas preferências e com a imagem que queremos construir para nós mesmos, um reflexo dos grupos que buscamos pertencer e aos estilos que assumimos em nossas vidas.
Já ao se falar de ambientes corporativos, como escritórios ou ambientes comerciais (lojas e showrooms), o impacto do design de interiores se relaciona ao potencial de otimizar a produtividade, atrair e reter atenção e, principalmente, proporcionar conforto e envolver as pessoas em conceitos de marca sem que elas percebam, com impacto direto no consumo.
A neurociência, por exemplo, apresenta pesquisas que comprovam o impacto do ambiente no comportamento. Por que as cores do Mc Donald’s são tão fortes e os assentos poucos confortáveis? Porque o foco é o fluxo e a rápida rotação de clientes naquele espaço. Já o Starbucks proporciona ambientes de meia luz, com muito conforto e de forma a lembrar uma sala de estar, pois o foco é a experiência.
Em ambos os casos, o projeto de design de interiores é extremamente importante para a estratégia da marca e para o seu posicionamento.
Uma nova graduação. E agora?
Durante a entrevista com a equipe do InfoBranding, Elisama contou que não se sentiu um “peixe fora d’água” no novo curso que escolhera. Segundo ela, na Belas Artes teve professores ótimos, que incentivavam os alunos a descobrirem que não estavam no curso por acaso.
Quando professores, e também profissionais de mercado (que muitas vezes são a mesma pessoa) inspiram alunos a seguir a profissão com paixão, dando o seu melhor e buscando entregar um serviço ou produto de qualidade e valor para o cliente, o mercado ganha profissionais diferenciados, que elevam o reconhecimento da área de atuação como um todo.
E foi com seu propósito em mente que ela concluiu os 4 anos de graduação e, junto com sua colega de curso, Mariana Borges, passaram a operar transformações começando por suas próprias carreiras: recém-formadas, decidiram trabalhar juntas no estilo home office e começar a história da Plus Interiores:
“Na faculdade os trabalhos em grupo trouxeram empatia com algumas pessoas. Tivemos um projeto grande a ser desenvolvido, executando-o por completo, do início ao fim. Logo de cara foi um grande teste de fogo.”, contam.
E foi a partir deste projeto, aprendendo com erros, acertos e encarando a realidade do dia a dia nas obras, que as duas designers resolveram empreender juntas, e somar o design à experiência de Elisama na área administrativa: “Foi preciso ter humildade e buscar a ajuda dos professores; aprender a trabalhar com terceiros e começar a criar uma rede de networking com parceiros de negócios que levamos até hoje.”
Muitas empresas nascem a partir da universidade, um grande laboratório; seja de um projeto, seja da empatia entre amigos que começam a exercer a rotina de uma marca na prática.
Em que aspecto a universidade colaborou com a estruturação da Plus?
De acordo com as parceiras, o compartilhamento de toda a bagagem dos professores, tanto teórica quanto vivências pessoais, foram essenciais, pois suas experiências eram discutidas nas aulas e ajudavam a formatar a visão profissional:
“Vemos a diferença na hora em que começamos a trabalhar e nos deparamos com um grande problema. Parece fácil, mas obra é complexa e coloca as relações à prova. A vivência na faculdade ajudou os alunos a se prepararem para essa realidade”.
A jornada no Design de Interiores
Inicialmente os projetos do escritório eram focados no residencial, mas hoje são trabalhadas também propostas para o ambiente corporativo – projeto, acompanhamento de obras e também consultoria técnica.

Ao começar os projetos na Plus Interiores, as parceiras se depararam com um desafio: a captação de clientes.
Como divulgar? Com quem falar? Qual nicho de mercado seguir?
Com estas questões em mente, colocaram os “pés no chão”compreendendo que não poderiam abraçar tudo.
Definiram, então, que iriam trabalhar com projetos residenciais para atender uma demanda inicial. Passaram a se apresentar em novos condomínios, falar com trabalhadores, até fazer divulgação em jornais de bairro.
No início, confessaram que acertar a abordagem para alinhar o posicionamento da marca foi algo estruturado mais na prática do que no planejamento. Uma realidade de muitos empreendedores que, para dar vida ao seu propósito, precisam simplesmente agir e colocar a “mão na massa”.
Após alguns trabalhos realizados, as parceiras da Plus conquistaram a confiança necessária para organizar e apresentar um case real. Segundo elas: “Os trabalhos autorais transmitem confiança.”
Estar atento às mudanças traz oportunidades
Segundo as empreendedoras, o segmento do design de interiores vem mudando consideravelmente.
O crescimento populacional, o alto custo do espaço em grandes centros urbanos, mudanças no estilo de vida das novas gerações e a crise que vem reduzindo o tamanho físico das organizações, trouxeram para o designer de interiores a oportunidade de criar espaços mais funcionais. A Plus vem acompanhando essas mudanças diversificando seu portfólio e conquistando novos clientes.
Tais mudanças acontecem em todos os segmentos e, assim como a Plus, os empreendedores e suas marcas precisam estar atentos a elas uma vez que, caso não estejam, no momento em que se derem conta, pode ser tarde demais para a marca se tornar relevante.
Michael Porter é autor de um conceito conhecido como as 5 Forças de Porter, que visa identificar e relacionar as forças exercidas entre os players em um determinado setor do mercado.
Para além da competição por serem reconhecidas como marcas melhores e dignas da preferência do consumidor, o modelo das 5 Forças de Porter traz a ideia de que os players concorrem pela lucratividade, algo mais abrangente que mostra que os empreendedores precisam estar atentos às dinâmicas no micro ambiente e, também, no macro ambiente. (Magretta, 2012).
Sendo assim:
- Rivalidade entre os competidores existentes: esta força é antiga conhecida dos empreendedores. No caso da Plus, é representada pela competitividade com outros escritórios e profissionais especializados em design de interiores. Quanto mais intensa for essa competição, menor a lucratividade dos players, que passa a ser diluída pela dificuldade em se estabelecer preços mais altos, maiores custos com comunicação entre outros.
- Ameaça de novos entrantes: esta força diz respeito à dificuldade que o setor apresenta para que novos players passem a atuar nele. Ou seja, diz respeito às barreiras que novas empresas e profissionais precisam transpor para atuar no segmento. Dependendo de sua intensidade, pode diminuir a lucratividade ao aumentar os custos para a entrada, tornando a atratividade menor para os interessados a ingressar no setor e, ao mesmo tempo, aumentando o custo para os players já inseridos se manterem relevantes e encantarem seus clientes.
- Ameaça de produtos e serviços substitutos: a força que ilude muitos empreendedores, inclusive os mais experientes. Ela diz respeito àqueles produtos e serviços que podem vir a substituir os oferecidos pela empresa, não apenas por representarem uma inovação tecnologia ou apresentarem atributos melhores, mas também por serem algo que desvia a preferência do consumidor, mesmo que não sejam concorrentes diretos. Por exemplo, no caso de uma empresa de design de interiores, produtos substitutos pode ser um parente “faz tudo” ou uma solução de prateleira de uma grande rede de lojas de departamentos. Para lidar com essa força, um bom posicionamento e trabalho de branding são essenciais.
- Poder negociação dos fornecedores: Toda empresa precisa de uma rede de parceiros para as ajudar a entregar o seu produto ou serviço. Esses parceiros são seus fornecedores, com os quais a marca estabelece uma relação de profunda confiança. Dependendo da especificidade, complexidade, processos e tecnologias envolvidos e na disponibilidade de prestadores similares no mercado, o poder de barganha dos fornecedores pode ser maior ou menos na hora de negociar com a empresa e isso afeta diretamente a lucratividade da mesma. Imagine só se apenas um ou dois profissionais são capazes de criar adornos de metal personalizados para uma escadaria; sua mão de obra acaba por ser mais cara, uma vez que não existem tantos profissionais capazes de entregar a mesma qualidade necessária para o sucesso do projeto.
- Poder de negociação dos compradores: essa força diz respeito ao poder que o comprador exerce na relação. Quanto mais poder o comprador tiver ou quanto mais empresa depender dele para sua sobrevivência, mais valor ele pode exigir que seja agregado ao produto ou serviço oferecido e com um custo menor e isso, sem dúvida, reduz a lucratividade do negócio. Uma marca bem trabalhada e capaz de comunicar seu valor representa um ativo fundamental para que as empresas garantam uma boa negociação com seus compradores. Pense em um instante na marca ZahaHadid (1950-2016), importante arquiteta iraquiana-britânica que se consolidou no mundo da arquitetura com seus projetos conceituais. Por mais poder que seus clientes pudessem ter, a força de sua marca garantia que sua lucratividade não fosse diminuída, pelo contrário, o escritório que leva seu nome continua próspero até hoje.
Tais forças, embora aconteçam em um determinado setor da economia, como o do design de interiores no caso da Plus, coexistem dentro de um contexto maior, influenciado por evoluções tecnológicas, comportamentais e tendências no micro e macro ambiente. Estar atento à essa dinâmica é fundamental para os empreendedores e pode representar a diferença entre o sucesso de longo prazo e o fracasso da marca.
Quais atributos essenciais para a Plus?
- Viabilidade: é extremamente importante mostrar para o cliente o que pode ser executado – nunca propor algo que não pode ser feito;
- Transparência: ser transparente e saber até onde vai sua expertise;
- Confiança: é essencial construir uma relação de confiança com o cliente, que muitas vezes não quer se desfazer de tudo que estava no projeto antigo;
- Bem-estar: o mais importante é o cliente se sentir bem com o projeto e não apenas receber a assinatura do escritório na obra.
“Design e decoração dão ao mundo algo que ele não sabia que sentia falta.” (Paola Antonelli)
Marca focada no conforto do cliente
Hoje a Plus pensa, se preocupa e acompanha o cliente.
Apesar da tímida divulgação nas redes sociais, que acaba ficando em segundo plano, as parceiras direcionam maiores esforços na apresentação do portfólio diretamente aos clientes: “grande parte dos projetos vem por indicações. Hoje a marca acaba sendo refletida pelo atendimento mais pessoal”, diz Elisama.
Certo ou errado?
A abordagem de não impor o escritório, priorizando a necessidade do cliente, é um diferencial para a Plus. E este diferencial acaba sendo transmitido de forma mais clara e pessoal.
“Fazer a pessoa se sentir em casa; fazer parte do uso; fazer a obra para as necessidades do cliente, não para uma vitrine”, afirmam as sócias.
O dilema sobre digitalizar a marca em detrimento de um relacionamento mais pessoal faz parte da realidade de muitos empreendedores.
É importante lembrar que não existe uma regra para o sucesso, mas a atual realidade da transformação digital, que impacta diretamente a forma de consumo das pessoas, permite novas formas de se aproximar do cliente, potencializar seu atendimento e fazer divulgação sem perder a identidade da marca.
A presença digital precisa refletir o posicionamento e propósito da empresa.
“O bom design reside de alguma maneira na capacidade de instigar um sentido de familiaridade instantânea. Eu já vi isso antes.” John Maeda
Comodidade e conforto é o posicionamento da marca Plus Interiores, que pensa no conjunto de detalhes para fazer as pessoas se sentirem bem, inclusive no ambiente de trabalho.
As parceiras recomendam que as marcas do segmento utilizem o Pinterest para mostrar seu trabalho e também compartilhar imagens relacionadas ao universo da marca. A Plus, por exemplo, compartilha quadros de inspiração como jardins, divisórias, revestimentos, fachadas, janelas, entre outros. E também o Instagram para mostrar o dia a dia da marca, o resultado das obras, visitas e até eventos.
A marca Plus hoje
De nome fácil, que simboliza crescimento e não redução, segundo as próprias fundadoras, a Plus Interiores reflete seu momento de crescimento e traz consigo uma rede de parceiros de confiança – fornecedores, freelancers, entre outros.
Principalmente na gestão de uma marca PME, criar uma rede de networking e estabelecer relacionamento é essencial para o seu desenvolvimento.
Como essa rede é construída na Plus?
Segundo Elisama Lorenzo, os parceiros precisam estar alinhados ao direcionamento da Plus.
“A pessoa precisa ter compromisso, passar confiança; a Giovana (projetos de luminotécnica) e a Fernanda (personal organizer) são parceiras com quem podemos contar desde a concepção dos projetos e muitas vezes até a execução, dando assessoria sempre que necessário. Essa postura deveria ser comum no mercado, mas não é 100% assim. Parcerias pouco ordenadas podem causar impactos diretamente na relação com os clientes”.
As parceiras sinalizam que muitos profissionais na área ainda enxergam essa troca como concorrência, e é algo que não soma aos projetos, em vez de construírem uma rede de relacionamento.
Para o branding, compreender a visão de marca que os stakeholders possuem e como sua relação reflete na cadeia de valor é essencial para criar experiências de marca e viabilizar a entrega de tudo aquilo que promete.
Gerenciar esta Cadeia de Valor (Michael Porter), que auxilia a estruturação das atividades da empresa com o objetivo de criar valor ao cliente, é uma forma de suportar a longo prazo o propósito da marca de maneira tangível, constante e de forma percebida pelo cliente.
Mensagem final
A equipe da Plus Interiores mostra a importância da palavra cuidado em cada detalhe de seus projetos e o foco que sempre mantiveram no propósito.
“Não apenas para o cliente viver bem e se sentir confortável, mas também pela responsabilidade de indicar e recomendar materiais e acabamentos, por exemplo, pensando em crianças e idosos. Ter consistência e estar em concordância com o que será entregue é essencial.” Elisama Lorenzo
E com o aprendizado desta jornada, Lorenzo deixa um recado: “acredite, mas faça sempre uma boa pesquisa, para qualquer área”. É importante planejar sem a euforia para abrir um negócio e ter boas parcerias.
Elisama Lorenzo, focada no tradicional e que adora projetar, com Mariana Borges e Fabíola Avamileno, que trazem as tecnologias e dinamismo para o detalhamento dos projetos, formam o equilíbrio da marca Plus Interiores.
Referências:
MAGRETTA, Joan. Entendendo Michael Porter: o guia essencial da competição e da estratégia. São Paulo: HSM Editora, 2012.